Associação Vem Ser

“pérolas” de Vitor da Fonseca

Durante esses últimos 40 anos me honro de ter sido aluna dessa referência mundial em Psicomotricidade que é o professor Vitor da Fonseca. De inúmeros cursos, eventos, congressos, encontros pessoais, presenciais ou on line, registrei “pérolas” que vale muito compartilhar…

Edição I: Isolamento e Evolução Humana – Pérolas de Vitor da Fonseca

  • O isolamento do ser humano pode fazer devastações de neurônios e conexões neuronais terríveis. Conectar mentes, sentimentos, emoções e corpos é típico dos animais com cultura, como é o homem.

  • “Palma da mão” = p + alma – a mão extremidade do corpo e o periférico da alma.

  • Somos o resultado de uma organização vertebral única que permite grandes conquistas da espécie.

  • O bipedismo nos fez maratonistas a explorar todo o planeta, desde a África até qualquer outro ponto, libertando as mãos e o crânio.

  • Os vertebrados correm, nadam, voam e é precioso o estudo da motricidade. O homem é presa fácil nessa conquista como vertebrado dominante.

  • O homem não percebe sua história, não quer preparar o futuro e está destruindo o seu habitat presente.

Edição II: Habilidades Motoras e Comunicação

  • Conquistamos o bipedismo, o bimanismo e a articulação da fala (unidade motora mais complexa do corpo humano é a língua, que produz movimento numa velocidade superior a da mão e a do pé). A proximidade da língua para o cérebro é muito maior que a da mão ao cérebro e a do pé ao cérebro, portanto a velocidade das conexões são distintas.

 

  • Para produzir a voz humana precisamos de 100 músculos, já para produzir a manipulação de um objeto precisamos cerca de 60 e com os pés 30 músculos para a corrida e caminhada.

 

  • Temos uma especialização e dominância manual – 1% da população mundial é ambidestra, 10% é sinistro e o resto é destro.

 

  • Nas três extremidades que o ser humano se apropria do mundo e na ordem: pés, mãos e fala, há uma triplicação dos pés para as mãos e destas a boca. Como o cérebro se apropria do mundo externo através dessas 3 extremidades. Evolui do ato ao pensamento.

 

  • A arte é uma dimensão concreta e materializada pela nossa mão. Temos 5 dedos, mas 3 fazem 90% de nossa atividade criativa manual (polegar, indicador e o médio). A mão se organiza de forma sistêmica numa manipulação distinta, sendo um estudo e prática dos psicomotricistas.

 

  • A grande paixão dos psicomotricistas é estudar o movimento em todas as espécies: a categorização nos invertebrados, depois nos vertebrados, onde resulta o triunfo da motricidade mais complexa, a partir do que o corpo produz. Nossa motricidade acrescenta a natureza a cultura e a civilização. Somos um produto dessa motricidade.

 

Edição III: Arte, Desenvolvimento e Aprendizagem

  • A medida em que construímos objetos temos uma condição de renovação do mesmo, pois a tendência é o aperfeiçoamento do mesmo na história da humanidade. A tecnologia está associada a motricidade manual – micromotricidade.

 

  • Somos o macaco nu e dotados de uma epiderme de minúsculos mecanismos que permitem o cérebro construir informações e representações a respeito daquilo que nos cerca, através da pele, nossa fronteira com o mundo. Somos uma espécie dotada de tato e carentes de contato. Conectar é contactar. Nascemos para ser amados e para amar.

 

  • O corpo é um instrumento de amor e de comunicação. Uma ferramenta crucial do psicomotricista. Devemos ser especialistas do tato e do contato, nos fazendo mais humanos. Essa singularidade relacional é o poder humano da alma.

 

  • Impressiona o GPS da tartaruguinha que ao romper o ovo, numa reptação vertical não vai para a terra e sim ao oceano, seu meio privilegiado de sobrevivência. Ela vive mais anos que o ser humano, volta ao local onde nasceu para se reproduzir e lá deixa a perpetuação de sua espécie. Uma conquista que revelam o desenvolvimento da espécie.

 

  • O cérebro é o maestro da orquestra que é o nosso corpo.

 

  • O bebê humano nasce imperito, totalmente dependente. Não tem autonomia de espécie alguma. Vai precisar do corpo do outro para se tornar um EU. Se o corpo da mãe ou de quem a substitua é um ser que não dá esse suporte e cuidados necessários no tempo e intensidade, teremos sérios problemas futuros nesse bebê.

 

Edição IV: Desenvolvimento Infantil e Avaliação

  • O EU vai se construindo através da motricidade afetiva, proximal, emocional, amorosa, tátil e contátil da mãe.

 

  • O cérebro é um espelho do corpo e do mundo e sua ação é um espelhamento para a construção do EU, gerando a autonomia desse ser pela vida afora.

 

  • A criança começa a andar lateralmente, pois ainda não tem a direccionalidade. A gravidade é o que orienta as conquistas humanas, de cima para baixo na maturidade e debaixo para cima na funcionalidade.

 

  • Somos sujeitos a processos de aprendizagem que resultam de uma transferência cultural e de competências psicomotoras entre seres experientes (mãe) para seres inexperientes (bebê), num contexto de interação social. O ser humano é a única espécie que “ensina”. Com isso a criança adquire, se apropria, incorpore (por dentro do corpo) e armazene no cérebro as competências que lhe foram ensinadas e transmitidas.

 

  • O psicomotricista tem de se aprofundar na aprendizagem, através das neurociências. A neurologia cerebral implica na relação entre o ser ensinante é o que transfere conhecimentos e competências ao ser aprendente. Portanto é necessário que esse profissional será um perito do neurodesenvolvimento humano.

 

Edição V: Avaliação Psicomotora e Intervenção

  • A avaliação padronizada é uma característica do ocidente e não do oriente… toda avaliação é personalizada. Testes medem o produto final mas não mede os processos. A avaliação deve ser dinâmica do potencial de aprendizagem sobre as competências da leitura, escrita e calculo. É preciso utilizar um “manual de observação” e não é só uma questão de medidas. Precisamos conhecer o ser em potencial e como aprendiz.

 

  • Há um paradigma muito complexo entre o observador e o observado nos processos de avaliação. Esses dois sujeitos tem várias selfs…. vários sujeitos: aberto da comunicação, cego que está no observador que não se transfere ao observado, no oculto onde o observado reconhece na face do observador vários sinais que podem alterar o resultado… enfim… a avaliação psicomotora tem dupla intersubjetividade. Nunca temos enquanto observador o conhecimento total do observado. A diversidade fica oculta nos testes.

 

  • Nos testes muitas vezes o observador mantém uma posição fria e distante, vê que o observado está errando e não intervém porque segue as orientações do Manual e apenas está a espera do produto final.

 

  • Na avaliação dinâmica o avaliador penetra no avaliado nos processos que antecedem a produção das respostas dele, através de ensinar, ajudar, questionar, foca atenção nos detalhes e na situação, é um processo simultaneamente pré terapêutico.

 

  • Importância dos 3 P nos processos de avaliação: Propedêutica, Preventiva e Prospectiva, sem rótulos, diagnósticos fechados e ditando o destino do observado.

 

(Cacilda Gonçalves Velasco)

Compartilhe:

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp

Autora:

Autora:

Picture of Cacilda G. Velasco

Cacilda G. Velasco

Especialista em Psicomotricidade, Titulada Especialista em Gerontopsicomotricidade pela Associação Brasileira de Psicomotricidade. Professora, Pedagoga e Profissional de Educação Física, responsável Técnica da Associação VEM SER. Vários livros publicados na área psicomotora e diferentes atuações acadêmicas com cursos, congressos, mesa redonda e atuação desde 1984 em Terapias Psicomotoras na Água.

Site
Picture of Cacilda G. Velasco

Cacilda G. Velasco

Especialista em Psicomotricidade, Titulada Especialista em Gerontopsicomotricidade pela Associação Brasileira de Psicomotricidade. Professora, Pedagoga e Profissional de Educação Física, responsável Técnica da Associação VEM SER. Vários livros publicados na área psicomotora e diferentes atuações acadêmicas com cursos, congressos, mesa redonda e atuação desde 1984 em Terapias Psicomotoras na Água.

Site

Mais artigos

“pérolas” de Vitor da Fonseca

Durante esses últimos 40 anos me honro de ter sido aluna dessa referência mundial em Psicomotricidade que é o professor Vitor da Fonseca. De inúmeros

Decálogo de um Gerontopsicomotricista

1. Quando um Gerontopsicomotricista se capacita, ele também reconstrói sua história de aprendizagem. 2. Um Gerontopsicomotricista não brinca, simplesmente, ele introduz o bom humor em

Alfabeto Psicomotor

Aprendizagem só pode ocorrer se não houver Bloqueios físicos, motores e/ou emocionais Comprometendo e até impedindo o bom Desempenho, na criança, do seu Esquema corporal.Este

O que é ser um Terapeuta

Aquele que trabalha com as mãos é um artesão! Aquele que trabalha com a mente é um sábio! Aquele que trabalha com a inspiração é

Representante Mundial

Prof. Dr. Rui Fernando Roque Martins

Professor Associado na Faculdade de Motricidade Humana (FMH) da Universidade de Lisboa (UL)
Docente na licenciatura em Reabilitação Psicomotora e Coordenador do Curso do Mestrado em Reabilitação Psicomotora, da FMH – UL
Membro fundador e delegado português do Fórum Europeu de Psicomotricidade
Delegado Português da Organização Internacional de Psicomotricidade e Relaxação desde 1989.
Honoris Causa pela Organização Internacional de Psicomotricidade e Relaxação, pela contribuição para o desenvolvimento Internacional da Psicomotricidade
Membro fundador e Presidente da Associação Portuguesa de Psicomotricidade.