Sabemos que a população idosa sofre cristalização dos seus comportamentos tônicos, privando-se da possibilidade de perceber o que há de mais simples: o prazer do movimento, o prazer que vem do corpo, o prazer da vida. A psicomotricidade é um caminho que abre possibilidades aos idosos de encontrarem outras formas de fazer, outras maneiras de pensar, outros sonhos a realizar, aprendendo a envelhecer com felicidade e prazer.
Há uma série de pesquisas que desvendam o cérebro maduro, na faixa entre 40 a 70 anos concluem que uma cabeça que pode ser até grisalha num corpo saudável reconhece com maior profundidade ideias centrais, compreende significados que não entenderia se fosse jovem e encontra soluções rapidamente. O cérebro é praticamente o mesmo, com transformações quase imperceptíveis. O que muda é a mente, que é produto da vivência. Daí conclui-se que o cérebro humano ao envelhecer compensa sua maior lentidão com a experiência adquirida. O segredo do talento do cérebro maduro está no bom senso. Quanto mais experiente for ele, maiores as chances de seu dono tomar decisões acertadas.
Maturidade tem a ver com vivência e não com tempo. Por exemplo, um jovem que viajou o mundo e se expôs a choques culturais ou que aprendeu cedo a lidar com suas angústias, pode ter um cérebro considerado maduro e, portanto, com melhor capacidade cognitiva e decisiva. O tempo, fisiologicamente, tem uma contribuição relativamente menor, já que o processo de envelhecimento reduz o número de neurotransmissores e torna circuitos neuronais mais lentos, causando aquela demora para nos lembrarmos, por exemplo, do nome de alguém. Nos registros de nosso viver consciente e inconsciente temos marcados os momentos mais nobres (tanto os bons como os maus).
Muita gente, no entanto, ainda associa velhice a declínio de cognição. Segundo o neurologista Ricardo Teixeira, diretor do Instituto do Cérebro de Brasília, o envelhecimento provoca perdas irrisórias ao cérebro, tremendamente discretas se comparadas à riqueza de conexões neuronais que um indivíduo forma no decorrer da vida. Tudo se relaciona ao estilo de vida e não à idade: até 60 ou mesmo 70 anos, os problemas de memória, atenção, fluência verbal ou execução de pequenas tarefas estão relacionadas a excesso de estresse, desequilíbrio emocional, sono desregrado, alimentação desbalanceada e, principalmente, sedentarismo.
A ciência também tem mostrado que a saúde do organismo como um todo se reflete no cérebro ou seja, o bem-estar do corpo favorece as funções mentais. Nesse sentido, o exercício físico tem mesmo um papel fundamental, mas não qualquer exercício e sim aquele que é feito voluntariamente. O prazer é fundamental para a quem busca saúde da mente e divertir-se é a melhor receita para manter a massa cinzenta ativa e saudável. Afinal produz mais neurônios, mesmo após os 40, quem valoriza o lazer, convívio social, as atividades desafiadoras, enfim, a qualidade de vida.
O cérebro é plástico e continua sempre mudando, o que lhe garante uma crescente complexidade de conexões e uma compreensão cada vez mais profunda das coisas. A comunidade científica investe tempo, pessoas e dinheiro em pesquisas muito nobres a todos os saberes. A cada dia novos conhecimentos são divulgados e as especialidades médicas mais instrumentalizadas para informar processos de nosso corpo, antes desconhecidos ou mitificados.
Durante muito tempo, acreditamos que a capacidade cerebral estava escondida nos neurônios. Nos últimos anos, no entanto, neurologistas e psiquiatras resolveram estudar a massa branca, que até então era ignorada. Essa divulgação nos dá novo foco sobre nossas habilidades. A massa branca é formada principalmente por mielina, um tipo de gordura que envolve os axônios, que serve de isolante para os impulsos elétricos que percorrem o cérebro. Sabíamos que a mielina estava distribuída de forma irregular ao redor dos neurônios, mas só agora que ela é depositada sobre as células nervosas com o intuito de melhorar a condução da eletricidade. A distribuição desigual serve para deixar os impulsos elétricos mais precisos, chegando ao mesmo tempo nos neurônios. Dessa forma eles coordenam melhor os nossos movimentos e pensamentos.
Isso vale para qualquer tipo de ação e pensamento, pois quando você pratica algo, a mielina se deposita e os sinais entre as sinapses vão ficando mais eficientes. A mielinização leva à perfeição”, diz George Bartzokis, professor de psiquiatria da Universidade da Califórnia, maior especialista do assunto no mundo. Esse processo é tão importante que até um bebê recém-nascido só abre os olhos depois que a mielina em seu cérebro se depositou nos lugares certos. Da mesma forma um idoso perde sua mobilidade não porque seus músculos simplesmente se atrofiaram, mas porque a mielina do cérebro diminuiu.
Para a mielinização ser mais eficiente, é preciso errar muito e sempre (!?). Isso nos confunde? Não, isso justifica muitas situações. Por exemplo: quando se cai, se leva uma bronca, se erra algo, etc… todos nós nos esforçamos para não mais cair daquela forma, não ser motivo para uma nova bronca e não cometer mais o mesmo erro… portanto… SE APRENDE. Se estivermos sempre repetindo algo da mesma forma, não há evolução. O ideal é falhar tentando algo novo do que insistir na mesmice da “rotina”. É nessa condição que a mielina é mais eficientemente espalhada pelo cérebro. Os que erram e treinam mais, são também recompensados. Isso é visível em ressonância magnética.
Músicos, escritores e crianças que tiram nota alta têm muito mais massa branca do que seus pares “comuns”. Quem, aliás, era recordista em massa branca era Einstein. Quando o cérebro do físico foi dissecado, notou-se, entre outras coisas, uma quantidade anormal de mielina. “Quem nunca errou nunca fez nada de novo”, dizia ele. O auge da mielinização acontece durante a infância, quando toda forma de atividade é novidade e tem de ser aprendida. Até os 30 anos, ela continua em alta escala, período esse onde se aprendem novas habilidades com facilidade. Até os 50, a mielina ainda pode ser ajustada em direção a um ou outro aprendizado. Depois disso, infelizmente, as perdas são maiores que os ganhos.
A mielinização continua, mas para preservar as aptidões já adquiridas, ou seja, a dificuldade para mudanças é maior. Além da idade, há algumas limitações sérias, pois há cérebros mais preparados para mielinizar do que outros. Daí a unicidade, isto é, a característica humana de ser exclusivo e único, pois não há duas pessoas idênticas, tudo dependerá da quantidade de estímulos que cada cérebro receber para que esse “aproveitamento de mielina” se transforme num lucro.
A Psicomotricidade situa a atividade humana como um investimento global da personalidade (da pessoa em ação). As modificações tônicas, as posturas e os movimentos são significantes da sua história pessoal, das suas representações, das suas vivências tônico-emocionais e do seu imaginário. A prática psicomotora é unificadora, porque liga a expressão corporal e a atividade mental, o real e o imaginário e o corpo no espaço e no tempo. A significação das expressões corporais, do diálogo tônico, a previsibilidade e antecipação, a distância relacional e simbólica, a diferenciação do mundo interno e externo e o vínculo como condição prévia traduzem a atividade humana como um processo psicomotor autêntico. A emoção permite o estabelecimento hierárquico de prioridades, unifica a ação e atinge determinado objetivo.
Na prática psicomotora existem falsas questões: Relacional? Instrumental? Funcional? Educativa? Terapêutica? Quais são as “linhas” e estratégias dessa ciência? Nossa experiência prática nos oferece que a resposta acertada é que a Psicomotricidade tem uma perspectiva holística e global, de entendimento da pessoa humana e das possibilidades adequadas de intervenção. Sua objetividade é o caminho da construção da consciência e da identidade psicocorporal.